sábado, 11 de agosto de 2012

Eu não tenho medo de voar!


Eu não tenho medo de voar. 
Eu tenho medo de estar fechada num lugar e de ter escolhido estar fechada nesse lugar. 
Tenho medo porque meus pés sentem o chão mas ele é falso. 
Meus pés sempre me obrigam a sentir a verdade 
e eu sou obrigada a dizer a eles que aquele chão não dura e nem é de terra. 
Tenho medo do absurdo que é sorrir e dizer "guaraná normal e sem gelo, grata" 
enquanto se quer dizer "que 
merda é essa de estar voando se não sou a porra dum passarinho?". 
Tenho medo porque quando acabar estarei em outro lugar. 
Agora, se eu pudesse escolher o maior de todos os medos, eu diria 
"a chance disso cair agora é muito pequena". 
Estou sobrevoando, sem inteligência, 
a água profunda que aprendi a chamar de casa mas também de intervalo. 
A verdadeira angústia de voar é estar acima da nossa vida. 
Voar é tornar nossa rotina banal. Estou voando há dias, de primeira classe, 
com vista para o desenho de um país que não sei o nome. 
Ao lado de uma pessoa que, até que enfim, não é mais uma barrinha de cereal.

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