sábado, 27 de setembro de 2014

A história de um perverso "O Perfume"

Talvez que não compreenda o conceito de perversão não tenha entendido o filme, ou o tenha achado estranho, esquisito e sem sentido. O filme ‘Com uma narrativa carregada de simbologia, o filme ‘O perfume’ é, antes de mais nada, a história de um perverso.   

Assim como no filme, o perverso por onde passa deixa um rastro de destruição, de marcas e feridas. Os perversos machucam deliberadamente as pessoas porque, simplesmente, não se preocupam com elas nem com as consequências dos seus atos. Tal qual o personagem ele não olha para trás e muitas vezes nem compreende a destruição que causou, se compreende não sente culpa alguma em relação aos seus atos. Certamente terá para eles uma boa desculpa, uma meia verdade, ou simplesmente não perderá seu tempo pensando em perdas e ganhos, que não os seus. Os outros simplesmente não importam.

O perverso carrega uma marca, uma ferida primordial, primeira. Algo que muito cedo ainda tirou dele capacidades essenciais e subverteu o amor. O perverso é incapaz de viver o amor, pois é incapaz de senti-lo, antes de mais nada. E essa incapacidade gera-lhe um ressentimento secreto. Zomba do sujeito romântico, que considera um ingênuo; zomba do neurótico, que considera um reprimido em relação ao seu prazer; zomba de quem é capaz de se colocar no lugar do outro e abrir mão do seu desejo em prol do outro; zomba de quem  acredita no amor desinteressado, na lealdade  e outros sentimentos essenciais. Desdenha porque no fundo inveja profundamente pessoas que não perderam a capacidade de acreditar. A inveja gera raiva e essa raiva a necessidade de passar essa marca perversa adiante. Ele acredita que o mundo é sórdido, muito em razão de pessoas como ele, e ele irá tentar convencer através de atos ou palavras, aqueles que ainda enxergam na vida alguma beleza. No filme o personagem principal tinha uma obsessão, roubar o perfume de moças virgens em busca de uma essência especial. Pois bem, essas moças virgens são a representação da inocência perdida, da inocência roubada, daquilo que é imaculado. O perverso rouba o que lhe foi roubado, perverte nos outros o que teve em si pervertido, destrói o que não pode ter.É sua tentativa de marcar os outros, assim como foi marcado.

O perverso é portador de uma marca, sim, e ele sabe disso. Uma marca invisível que pesa a sua alma e seca sua capacidade de sentir genuinamente. Ele é porta(dor) de uma ferida incurável, assim como um Quíron ferido, porém um Quíron na Sombra que ao invés de curar para sanar sua própria dor, causa feridas nos outros.

Como o personagem ele rouba essências, fere no âmago, ele fica fascinado por pessoas que possuem aquilo que ele não tem, inocência. Ele se alimenta disso e extasiado observa suas presas. E mesmo quando ele não quer destruir, ele destrói. O sujeito perverso é um ser partido, assim como um grande felino que encanta e distraí com um passarinho, apesar de não querer machucá-lo, ele fatalmente ele o esmagará. 

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