terça-feira, 16 de setembro de 2014

De uma garota com o coração na mala



"Ele tá indo embora e eu cortei o cabelo. Sempre corto o cabelo quando tô com a cabeça cheia e quero me livrar do passado, numa tentativa de dizer pro futuro que não me importo, que não tem apego, que nada vai me doer tanto assim quando me olhar no espelho e vir que sou outra eu, outra mulher preparada pra tudo. Menos pra perder você.
Tu não sabe, mas sempre que eu bato o coturno no tapete da porta e vejo que ainda é o que eu te dei, aquele que anunciava a minha entrada no nosso paraíso, eu morro um pouco por dentro. E você nem imagina quantas vezes eu fui capaz de morrer da última vez, na tal despedida, na coisa formal que a gente estipulou de se ver pra dizer adeus ou alguma coisa embaraçosa enquanto eu borrava o lápis todo no olho.
O teto do teu quarto nem era estrelado, mas parecia que ali, deitada do teu lado, com a mão esbarrando e o nervosismo formigando no estômago, eu tava num primeiro encontro com um garoto de 14 anos. Eu nunca tinha parado pra pensar em como as despedidas levam da gente a maturidade e só resta o nosso lado cru, o lado que vai chorar, que vai ficar sem voz, que vai se esgoelar por dentro por questões adultas que fogem ao nosso controle. E se passasse uma estrela cadente no teu teto, enquanto a gente olhava pro alto sem se encarar, eu teria pedido, teria deixado de lado a vontade de virar rockstar ou de morar bem longe daqui, teria feito com todas as forças um pedido pra você não ir embora de vez".

Texto na íntegra:


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